Como fiz um álbum digital e por que meus filhos choraram ao ver a foto de 1979

Por muitos anos eu achei que ninguém ligava mais para as minhas fotos antigas.
Guardei imagens por quase cinco décadas em caixas de sapato, envelopes marrons e livros de conta. Para mim eram parte da nossa vida. Para meus filhos parecia apenas papel velho que ninguém tinha coragem de jogar fora.

Um dia minha filha mais nova comentou que não sabia como o pai era quando jovem. Aquilo me atingiu de um jeito estranho. Ele viveu tanta coisa conosco. Tinha um sorriso fácil segurando os bebês no colo. Cantava desafinado. Era paciente. E agora tudo isso estava escondido em caixas que ninguém abria.

Nessa mesma noite resolvi transformar aquelas lembranças em algo vivo.
Peguei o celular, abri o whatsapp e pensei no que eu seria capaz de fazer sem aplicativo complicado nem assinatura. Eu não sabia usar google fotos. Não queria baixar nada. Então escolhi o caminho mais simples possível.

Coloquei várias fotos antigas na mesa da cozinha e comecei a fotografar usando a câmera do celular. Algumas ficaram tortas. Outras saíram com sombra do meu dedo. Nenhuma ficou perfeita. Mas todas ficaram de novo ao alcance dos olhos. E era isso que eu queria.

Depois criei um grupo no whatsapp chamado Nossa historia.
Adicionei meus três filhos e escrevi uma mensagem curta.
“Vou montar um álbum digital simples. Uma foto por dia. Só para a gente lembrar.”

Escolhi um horário fácil. Dez da manhã.
Todo dia, nesse horário, eu enviava uma imagem com uma legenda pequena dizendo o ano e o que estava acontecendo ali. Com o tempo percebi que isso não era apenas mandar foto. Era reconstruir a linha do tempo da nossa família.

No terceiro dia enviei a foto de 1979.
Meu marido de bigode segurando nossa filha recém nascida na varanda da nossa primeira casa em Belo Horizonte. Ele vestia uma camisa xadrez que eu costurei na máquina antiga. Eu escrevi a legenda devagar como se tocasse a cena de novo.

A reação deles foi imediata.
Minha filha mandou uma mensagem de voz chorando.
“Mãe eu não sabia que o papai me segurava assim… com tanto cuidado.”
Meu filho mais velho escreveu que tinha esquecido do sorriso do pai naquela época. Disse que parecia um homem completamente tranquilo e cheio de orgulho.

Foi aí que percebi que aquele grupo era mais que um espaço para salvar fotos.
Era um álbum digital afetivo, construído de modo simples e improvisado, mas que devolvia às pessoas memórias que elas nem sabiam que tinham perdido.

Com o tempo as mensagens ficaram mais longas.
Eles perguntavam quem aparecia no fundo das imagens. Riam das roupas antigas. Comparavam casas, viagens, aniversários. No domingo sempre pediam mais uma foto. Parecia que uma parte da família que estava adormecida tinha acordado.

O álbum digital não é organizado.
Não tem pastas nem datas perfeitas.
É só um grupo de whatsapp com fotos fotografadas às pressas e legendas curtas.
Mas mesmo assim ele vem reconstruindo pedaços da nossa historia que estavam se apagando sem que ninguém percebesse.

Uma maneira simples de criar seu próprio álbum digital da memória

  1. Junte algumas fotos antigas.
  2. Fotografe com o celular sem buscar perfeição.
  3. Crie um grupo com os familiares que fazem parte dessa historia.
  4. Envie uma foto por dia com uma legenda curta.
  5. Deixe que as conversas nasçam naturalmente.

Memória não precisa de alta resolução.
Precisa só de alguém disposto a trazer o passado para o presente.

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