tired people on the bus

Um país exausto: por que o Brasil entra em 2026 no piloto automático

Os dias passam num ritmo estranho, nem bons nem ruins, como se o país inteiro estivesse apenas cumprindo tabela, à espera de mais um ano. Para muita gente, a sensação é clara: o Brasil entra em 2026 no piloto automático.

Acordar, ver as mesmas notícias pesadas, cuidar da família, pagar contas, dormir cansado. No dia seguinte, repetir tudo, sem tempo para respirar de verdade. Para muitos aposentados, a promessa era outra. Imaginava-se um tempo mais calmo, com café demorado e conversa na calçada. Em vez disso, veio um país tenso, caro, com medo de violência e cobranças por todo lado.

O corpo envelhece, mas o mundo não desacelera. Fila em posto de saúde, mensagem de parente pedindo ajuda, notícia ruim na televisão logo cedo. O resultado é um cansaço profundo, não só nas pernas, mas na cabeça e no coração.

Nessa hora, muita gente entra no modo sobrevivência. Faz o que precisa ser feito, sem pensar muito. Come qualquer coisa, conversa no automático, responde “está tudo bem” mesmo quando não está. O piloto automático protege num primeiro momento, mas rouba a vida aos poucos.

Alguns sinais mostram esse esgotamento. Os dias parecem iguais: você termina a semana e quase não lembra o que fez. A cabeça vive cheia, mas o coração vazio: preocupação demais, alegria de menos. E quase não existe pausa verdadeira. Mesmo em casa, o celular toca, o noticiário grita, alguém pede alguma coisa. A mente nunca descansa.

Por que então o Brasil entra em 2026 sem direito à pausa? Porque carregamos a ideia de que é preciso aguentar firme, não reclamar, “tocar a vida”. Pessoas idosas cresceram ouvindo que descansar é preguiça e que quem para “enferruja”. Só que a verdade é outra: depois dos 60, descanso deixa de ser luxo e vira necessidade.

Não é apenas dormir mais. É ter momentos em que ninguém exige nada, nem a família, nem o banco, nem a televisão. Momentos em que você pode ser gente, e não apenas alguém que resolve problemas. Pequenas pausas são possíveis, mesmo num Brasil cansado.

Uma primeira atitude é proteger dez minutos por dia só seus. Pode ser o café da manhã em silêncio, olhando pela janela, sem televisão. Ou dez minutos à tarde para sentar na varanda e respirar fundo. É pouco, mas manda um recado ao corpo: “você importa”.

Outra medida é fechar a porta para as notícias em certos horários. Nada de jornal na hora de dormir. A cabeça precisa entender que a noite é para desligar. O mundo não vai acabar porque você não viu mais um comentário de política.

Também vale aprender a dizer “não” para algumas cobranças. Você não precisa atender todas as ligações, nem resolver todos os problemas dos outros. Dizer “agora não” também é cuidar da sua saúde.

E faz diferença separar um dia da semana para um gesto que faz bem. Caminhar alguns quarteirões, cuidar de uma planta, organizar fotos antigas, conversar com um amigo. Pequenas coisas que lembram quem você é, além dos boletos.

Quando uma pessoa começa a se tratar com mais gentileza, algo muda ao redor. O país continua com problemas, mas aquele pedaço de mundo que é sua casa fica um pouco mais leve.

O Brasil pode até entrar em 2026 no piloto automático, nervoso. Mas dentro de cada um ainda existe um botão de desligar que ninguém pode arrancar. Ele mora em escolhas simples, repetidas com carinho: dez minutos de silêncio, um “não” dito na hora certa, uma xícara de café tomada sem pressa. São gestos pequenos, mas lembram que você merece respirar, mesmo que o país não pare.

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